Têm amores passageiros que marcam para a vida inteira.

Era um sábado frio para uma tarde de fevereiro e fui até um café, lugar que gosto de ir quando preciso de um pouco de paz para entender o que está fervilhando aqui dentro – eu ainda não tinha como saber que era o seu café. Decidida a deixar o passado passar, olhava fixamente para o fundo da xícara, que sequer tinha borra no fundo, procurando respostas para entender o motivo de ter escolhido justamente aquele dia para permitir a chegada do novo – eu ainda não tinha como saber que o novo estava bem ali, me trazendo outra bebida fumegante. E foi quando notei sua presença e te sorri, que guardei a imagem do seu sorriso tímido, quase encoberto por completo pela barba, no meu cantinho da memória do coração.

Mas eu logo o esqueci. Havia decidido voltar atrás na minha decisão de aceitar o passado ir assim, sem parecer que um dia tinha sido presente, sem parecer que um dia tinha sido amor. Eu precisava compreender como é que se ama de noite e se desama na manhã seguinte, como o sentimento escapa sorrateiro na madrugada, sem fazer barulho, nem deixar vestígios. E procurando tantas soluções, eu me perdi.

Quando eu já não buscava mais nada, cansada até de tentar encontrar um trajeto para viver sem as respostas que sempre acho que preciso, você me achou. Me trouxe de volta com palavras, coincidências e risadas; e me falava “sai daqui” só para me trazer mais perto de ti. Eu fui – não porque eu não tivesse para onde ir, mas porque, soubemos então, nossos caminhos sempre foram lado a lado – tão perto e tão distante quanto duas linhas paralelas de uma folha pautada de caderno de escola.

A primeira vez que deitei no teu peito, eu chorei baixinho – hoje eu sei porquê – e te abracei forte. Você abriu seu sorriso, seus braços, a porta do carro e se abriu para me contar sua vida; eu abri a porta da minha casa, abri minhas histórias que conto para poucos, minha verdade e, quando me dei conta, meu coração estava escancarado.

Dormimos e acordamos juntos todos os dias. Sorrimos juntos, falávamos o dia inteiro por todos os meios. Perdi a conta de quantas xícaras de café, de chai e de chá londrino eu tomei – e até quantos goles dos mais diferentes tipos de cerveja. Assim como parei de contar quantos beijos, cafunés, abraços, carinhos, letras de música, pequenos planos e palavras doces trocadas ao pé do ouvido. De quantos banhos tomamos juntos e de quantas vezes nos amamos nos lençóis do Mickey, no edredom de Stranger Things, ou só no pensamento, quando nossos olhares se cruzavam.

Desse primeiro momento em diante, eu realmente/finalmente entendi o refrão da música que tanto amo, que tatuei no meu braço esquerdo antes mesmo de você chegar. E logo depois veio o último instante – tudo acabou tão rápido como começou. Não houve mentiras, traição ou mágoas; houve a vida e por essa razão, pela primeira vez, eu não procurei explicação alguma para o fim. Eu vivi intensamente cada momento, cada sentimento, cada combinado que não irá se cumprir. Eu amei como se meu coração nunca tivesse sido quebrado – e superei como se nunca tivesse amado.  

Das lembranças que ficam eu tenho a lição que aprendi, a garrafa de cerveja (da tampinha de capricórnio) que virou vaso, a receita do meu chá favorito, a recordação da sua expressão quando meus dedos enlaçavam sua barba e uma única foto, com a minha felicidade estampada – e meu sorriso diz que se têm amores passageiros que marcam para a vida inteira, o nosso é um deles.

 

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