Era o doce o tempo – entenda-se dias atrás – em que acreditar na transparência dos relacionamentos cotolava meu permanente desassossego. Todavia a realidade resolveu sacudir meus sentidos e tirou-me do perigoso estado de surrealidade onde me encontrava.
Vocês, homens, são mais difíceis de entender que minha personalidade durante a TPM. Mostram-se esforçados, atenciosos e, às vezes, com um certo trauma de coração partido. Mas conhecendo esse joguinho, colocamo-nos na defensiva e, então, vocês metem o pé pelas mãos. Não são coerentes com atos e falas de maneira alguma; a ironia é quanto mais escorregadias e esquivas nos tornamos, depois de tanto costurar nossas belas faces, mais vocês nos desejam. Então quando nos rendemos, quando hasteamos a bandeira branca com os dizeres “eu não vou te magoar, pelo contrário, estenda-me sua mão pois eu sou carinhosa”, tcharam: não sãos os pés que vocês metem, muito menos pelas mãos!
“E por que haverias de querer minha alma na tua cama? / Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas, obscenas, porque era assim que gostávamos./ Mas não menti gozo, prazer, lascívia./ Nem omiti que a alma está além, buscando aquele Outro./ E te repito: por que haverias de querer minha alma na tua cama?/ Jubila-te da memória de coitos e de acertos./ Ou tenta-me de novo. Obriga-me.”
Custei a acreditar na máxima de consultoras de relacionamento e sexuais com as quais convivo: depois do sexo o homem muda. Por que, de fato, haveriam de apreciar a alma e o melhor de nós, quando a demanda é excessiva e a satisfação aplacada em minutos? Questiono-me se por também assumirmos nosso lado humano de carne, osso e hormônios, deveríamos pagar tamanho preço.
A verdade é que é tudo uma hipocrisia desgraçada e toda mulher busca o além, that crazy little thing called LOVE. O amor na verdade é uma guerra fria, uma guerra que ninguém pode vencer. E tudo o que podemos fazer a respeito é dissuadir o outro de apertar primeiro o botão. É o medo que petrifica, concluo. Ser feliz, vez ou outra, dói. Homem é quase tudo cagão, bichinhas enrustidas. Nós também somos, preciso confessar…
Embora nem todo beijo seja para transar, nem todo sexo para namorar, nem todo namoro para fantasiar… Da mesma maneira que fomos criadas com um objetivo final, vocês também – é culpa da criação, sim, sim. Conseqüentemente aprenderam as sutilezas mortais para nos enroldar em suas armadilhas tamanho king size, adornadas com travesseiros fofos e alvos edredons aconchegantes.
A vida mostra que não sabemos todos os truques e, por ventura, ainda nos foderemos bastante. Ah sim, pior que qualquer desafeto, somente a saudade. Sem modéstia, já havia identificado quase todas as artimanhas (ter cinco irmãos serve para algo) até resolver aparar algumas arestas. Quem disse que as companhias consideradas excelentes, não podem foder sua personalidade? Eu tinha que dar ouvidos? Bem feito, tomei no cu!
Já diria Lispector que até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso, nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
Anyway, dada a multiplicidade de mim, é regozijante ter um adeus assim: um sexo digno de ser chamado de sexo, uma lágrima sorrateira e um aceno de ‘quem sabe, até breve’ – sem beijos, são eles que apaixonam. Um adeus que não me dê vontade de correr de volta para seus braços e ter seu cheiro no meu corpo até a manhã seguinte. Um adeus onde deleto sem remorso, pesar ou tristeza, todos e-mails e mensagens. Saudavelmente aceno ‘até nunca mais’.
[ Quem você teve não já é mais aquela que poderá ver em qualquer dia de verão nessa Paulicéia desvairada ]
Na contrariedade que me ponho, melhor que fosse a eterna putinha do coração de ouro – reconhecendo que o amor se faz de orgasmo em orgasmo em momentos fulgazes – a tornar-me uma cinderela hipócrita, pagando quantos boquetes forem necessários na tentativa de galgar os três degraus que levam ao altar.
Nesse limiar, opto em desligar o homômetro e comprar um bichinho de pelúcia e um vibrador.