Fireworks inside me

Esqueço minha mania de não aceitar cavalheirismos e eu cedo. Foi difícil resistir ao vê-lo parado, com a mão esticada para a porta do carro. Eu sorrio e me afasto enquanto ele, em sua habilidade de ex-pugilista, me vira, segura meu rosto com as duas mãos, me olha baixo e me beija suavemente . As pessoas continuam passando pela ruela, diminuindo o som ao nos verem e eu o beijo com um sorriso tímido nos lábios, confessando um lado que prefiro quase nunca expor. Ele sorri ao constatar essa versão de mim que ainda não tinha visto, me coloca no banco do passageiro e saímos.

Ele dirige sem saber aonde ir e decido levá-lo onde nunca levei alguém antes, mas é o tipo de lugar que ele gosta de estar. É o lugar onde sempre estou. Ele contempla a vista, o interior do meu lugar no mundo e eu sei que ele precisa ver mais. O pedacinho recém-descoberto, com a orla abaixo dos nossos pés e todo mar à nossa frente. Dois braços envolvem meu corpo. A barba por fazer raspa meu ombro e a boca dele deixa rastros da base do pescoço até a ponta da minha orelha esquerda. A temperatura da noite de outono eleva-se subitamente e dentro de mim é apenas verão.

Escadas, ladeira abaixo, ruas e uma única rotatória até chegar onde tudo começou, para mim. Na rádio toca “Your Song”, minha música, e ele fala comigo sem desviar os pequenos olhos escuros dos olhos mais doces que ele já viu. Às vezes, um momento de felicidade está em coisas simples. E eu sei que hoje eu transbordarei.

Ele me envolve, me beija e brinca com meu cabelo. Eu sento em seu colo, beijo todo o rosto, sem pressa. Pequenos beijos salpicados, reconhecendo a fisionomia com os lábios, absorvendo o perfume, sem querer explicação, apenas sentir. Ele sorri de um modo que não sei dizer e antes de falar qualquer coisa, mordo o queixo e sou esmagada entre seu peitoral e o volante. Suas mãos passeiam por todo meu corpo, apertando, sentindo, chamando para si. E eu me entrego.

Sinto a pele dele junto à minha. Sinto seu gosto, seu cheiro e seu toque por todo meu corpo. Engulo suor e saliva com a mesma satisfação que devoraria um prato de mariscos. Seus braços contornam minhas coxas e ele desafia as leis da Física. Eu sinto que o parquinho de diversões abriu somente para eu brincar. Sem pressa, porque ele vai ficar aberto a noite toda e eu me divirto como se não houvesse amanhã, pois, na verdade, não há. Aproveito para aproveitar cada looping com um sorriso bobo, cada subida sentindo o friozinho na barriga, cada fogo de artifício que estoura dentro de mim com gritinhos abafados no pescoço dele. E, como se ainda fosse criança, brinco no escorregador de gozo e suor sem medo da queda. Até que desabo esgotada, arfando.

Ele ainda sorri, eu o beijo sem timidez, sem pudor. Ofereço a ele a vista mais secreta desde então. Eu assim, tão entregue, tão exposta em quase todas as versões de mim mesma. Eu olho pela janela, para o alto e enxergo para dentro. Sorrio ainda mais quando volto para o colo dele. Enquanto ele se aconchega no meu corpo eu sei que não é ele. Mas há tempos  eu não era tão eu com outro alguém. Eu olho para nós dois e sorrio. E, enfim, relaxo.

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